O embate público provocado por Romeu Zema (Novo) com o presidente Lula (PT) nesta terça-feira (11) é uma forma de o governador de Minas Gerais tentar se diferenciar do chefe do Executivo estadual de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na relação com o petista.
Os dois são cotados como representantes da direita para as eleições presidenciais de 2026 —e opções de apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que, apesar de manter discurso de candidato, está inelegível até 2030.
As farpas trocadas publicamente entre Zema e Lula no palanque em Betim (MG) contrastaram com as trocas de afagos entre Tarcísio e Lula há duas semanas. O governador mineiro buscou, com o evento, demonstrar ter força para confrontar diretamente o presidente em pautas que ambos divergem publicamente, apontam aliados.
Num evento de inauguração de um centro automotivo, da iniciativa privada, Zema criticou, de forma indireta, o número de ministérios de Lula, o veto ao Propag (Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados) e governantes que moram em palácios.
Lula respondeu elogiando sua equipe e atribuindo a ela os resultados econômicos do país, avaliados pelo presidente como positivos. Aproveitou para provocar o governador mineiro a comparar os resultados com o de Bolsonaro, de quem Zema busca apoio.
O embate difere do tom cordial adotado por Tarcísio com Lula no fim do mês passado. O governador de São Paulo agradeceu ao presidente pela atuação para a construção do túnel Santos-Guarujá. O presidente, por sua vez, disse que o aliado de Bolsonaro está fazendo história com as parcerias junto com o governo federal.
“Apesar de sermos o segundo estado mais populoso do Brasil, somos o que tem menor número de secretarias: 14. Mas para time ganhar campeonato não precisa de 20, 30 jogadores em campo, não. Precisa de 11 craques e é o que nós temos feito aqui”, disse Zema.
Lula, que tem quase 40 ministérios, respondeu de forma direta. “Tenho muita sorte de montar essa equipe extraordinária como essa aqui. Porque o importante não é discutir se você tem uma ou dez. O importante é discutir a qualidade das pessoas que você tem, os compromissos que as pessoas têm.”
O presidente também provocou Zema com comparações entre o crescimento da economia em seu governo e no de Bolsonaro, apoiado pelo governador mineiro.
“Zema não lembra há quanto tempo essa economia não crescia mais que 3%. Nem você nem um economista. Precisou entrar aqui um cara de sorte, com equipe de sorte para fazer a economia crescesse dois anos seguidos”, disse.
As críticas frontais de Zema na terça foram compartilhadas em vídeos do partido Novo e aliados nas redes sociais. Eles destacam as críticas a quem mora em palácios, opondo-se a imagens da primeira-dama Janja, presente nos eventos.
Ao fim do dia, o governador decidiu estender o embate. Em áudio enviado por sua assessoria, Zema afirmou que o crescimento do PIB no ano passado ocorreu “via injeção de anabolizante, não é um crescimento saudável”.
Também cobrou Lula por exaltar bons resultados de seus dois primeiros mandatos, sem comentar a crise econômica do período da ex-presidente Dilma Rousseff, indicada pelo petista. “Será que ele mudou de partido? Será que a sucessora dele não deu continuidade ao que ele fez? Parece que estão querendo apagar o passado, reescrevê-lo.”
A leitura da equipe de Zema é que ele precisa reforçar a imagem de um antagonista de Lula. Tal atributo é visto como natural a Tarcísio em razão de seu vínculo mais próximo com Bolsonaro —o governador mineiro, por exemplo, só declarou apoio ao ex-presidente no segundo turno das eleições de 2022.
Desde as últimas eleições presidenciais, o governador tem lançado sinais trocados em relação a Bolsonaro e seus aliados.
Questionado pela Folha sobre como avaliou a denúncia contra o ex-presidente em razão da trama golpista para impedir a posse de Lula, ele afirmou não ser jurista e optou por criticar a Justiça. Tarcísio, por sua vez, fez uma defesa mais incisiva do presidente ao comentar o caso.
Em Minas Gerais, o PL deixou de compor formalmente a base de Zema na Assembleia Legislativa. A avaliação de integrantes da bancada é a de que ele não se compromete com pautas do “bolsonarismo raiz”.
Tarcísio disse a aliados que aceitaria disputar o cargo caso o ex-presidente fizesse o pedido. Publicamente, ele nega e afirma apoiar a futura candidatura de Bolsonaro, inviável atualmente em razão de duas condenações na Justiça Eleitoral.
Zema tem a seu favor o calendário eleitoral. O governador mineiro está em segundo mandato e deve renunciar em abril para se colocar à disposição como opção ao campo de direita e a Bolsonaro. Tarcísio também pode fazê-lo, mas perderia a oportunidade de disputar a reeleição no cargo de governador aguardando o aval do ex-presidente.
O governador mineiro já disse publicamente que pretende participar das eleições de 2026 como candidato ou como apoiador de um nome viável para enfrentar Lula.