O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) defendeu a separação dos Três Poderes em seu discurso de despedida do cargo no qual passou o bastão para Hugo Motta (Republicanos-PB). Ele lembrou as principais pautas de sua gestão, mas não citou os atos golpistas de 8 de janeiro e seus ataques à democracia.
Em sua fala, Lira defendeu o respeito às “prerrogativas parlamentares” e se emocionou ao citar seu pai, Benedito Lira, que morreu no início deste ano.
“Buscamos defender de forma intransigente o modelo de separação dos Poderes traçado em nossa Constituição, que fala em autonomia e independência, sem jamais permitir a sobreposição de um ao outro”, afirmou o alagoano.
Sua gestão ficou marcada, dentre outras coisas, por embates contra o Supremo Tribunal Federal (STF), em especial por conta das emendas parlamentares ou por investigações contra parlamentares.
Dentre os feitos de sua gestão que ressaltou, Lira citou a PEC da Transição, a Reforma Tributária, os benefícios sociais durante a pandemia da Covid, a criação da bancada negra, pautas de defesa da mulher, de segurança pública, em prol da infraestrutura, do setor de transição energética e atuação do Legislativo em tragédias climáticas.
“Sinto imenso orgulho da agenda positiva e dos profundos avanços que, junto com muito diálogo e convergência, estamos deixando ao país, mesmo em um contexto de reconhecida polarização”, disse.
Ele não citou, em nenhum momento, os atos golpistas de 8 de janeiro, quando o Congresso Nacional foi invadido e a Câmara dos Deputados, depredada.
“É uma alegria passar o bastão para você, depois da costura fina que nos permitiu chegar a um nome de consenso, com ampla capacidade de aproximar opostos”, afirmou sobre Hugo Motta.
Depois citou seu pai, Bendito Lira, antes de encerrar a fala e abrir a votação para a nova Mesa Diretora da Câmara.
Mais cedo, durante a manhã, ele apareceu ao lado de Motta e apertou a mão do deputado que escolheu para sucedê-lo no cargo.
“A Câmara hoje encerra um ciclo de uma administração que eu queria agradecer imensamente, na figura do meu vice-presidente, Marcos Pereira”, disse então, se dirigindo ao presidente do Republicanos e que foi fiador da escolha de Hugo Motta.
Ele também agradeceu aos líderes, disse que deixa um legado, mas não respondeu sobre seu futuro após deixar a presidência da Casa.
“Muita convergência, muito diálogo, muito trabalho, muita articulação, muitas entregas. Esse sempre foi o legado que a gente construiu e tentou deixar para a Câmara dos Deputados”, avaliou sobre sua passagem pelo cargo.
Também disse: “Sempre fui muito grato e muito orgulhoso de ter sido até hoje o deputado mais votado [para a presidência] da Câmara dos Deputados. Agora, ficarei muito mais orgulhoso, e trabalharei muito mais para isso, se Hugo Motta tiver um voto a mais que eu”.
Motta tem o apoio formal de 17 dos 20 partidos e foi o nome escolhido pelo próprio Lira. Também são candidatos Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) e Marcel Van Hattem (Novo-RS).
Além da presidência, os deputados também votarão neste sábado nos demais integrantes da Mesa Diretora: duas vice-presidências, quatro secretarias e quatro suplências.
Na sexta (31), Lira recebeu deputados do PT ao PL num jantar de despedida na residência oficial da presidência da Câmara. Anfitrião, o alagoano não discursou. Passaram por lá presidentes de partidos, líderes e um ministro do governo federal: André Fufuca (Esporte), deputado federal licenciado do PP.
O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha também esteve entre os convidados, assim como Hugo Motta, que posou para fotos e cumprimentou todos os presentes.
Em dezembro, na última sessão da Casa antes do recesso parlamentar, Lira falou em “voltar ao chão de fábrica”. Naquele dia, não deu sinalizações do que pretende fazer a partir de fevereiro e disse que segue a vida “sem planejar nem criar expectativas”. Nos bastidores, no entanto, ele é cotado para assumir um ministério do governo Lula (PT).
A cúpula da Câmara já tem um desenho de reforma ministerial para acomodar Lira no primeiro escalão do petista. A ideia seria que ele ocupasse a pasta da Agricultura, hoje chefiada pelo senador licenciado Carlos Fávaro (PSD).